Uma estratégia utilizada pelas montadoras de veículos em parceria com suas concessionárias é a oferta de financiamento de carros sem juros.
A oferta chama atenção logo de cara, pois em tese jamais valeria a pena fazer o pagamento à vista, mesmo para quem possui o valor suficiente para adquirir o carro novo.
Porém, nem tudo é vantagem para o comprador. Quando você para e analisa as pequeninas letras que aparecem logo após o final da oferta, percebe que há um tal de custo efetivo total ali quase escondido, e ele é sempre superior a zero, podendo chegar a incríveis 4,5% ou mais. Bem longe de zero.
Mas se os juros eram zero, como o custo efetivo vai ser de 4 ou 5%? Estou sendo enganado?
Não necessariamente. Qualquer operação de crédito possui alguns componentes mínimos que são divulgados em separado. São eles: a taxa de juros, a taxa de análise de crédito e/ou contratação e o IOF. No caso dos veículos temos ainda a taxa de gravame/alienação fiduciária do veículo, que ficará em nome da financeira até o pagamento da última parcela e que são pagas pelo comprados. Tudo isso somado compõe a CET – Custo efetivo total.
Veja portanto que a propaganda oferece apenas um dos componentes a custo zero: os juros do financiamento. O IOF e as demais taxas serão cobradas normalmente.
E é exatamente aqui que o custo é alto. O governo não está interessado em saber se o consumidor está pagando juros ou não e irá cobrar a taxa cheia de IOF que é de 0,38% sobre o valor total financiado à vista + 3% dividido e cobrado junto de cada uma das parcelas.
O outro custo que o consumidor está sujeito é a tarifa de aprovação de crédito e de contratação, que muda de acordo com a marca, valor do automóvel e época da contratação, mas que está sempre presente.
Em carros populares ela gira em torno de R$600,00, mas em alguns casos pode chegar a R$3 mil em carros cujo valor é próximo ou superior a R$100.000,00.
Então não vale a pena fazer um financiamento mesmo com juros zero?
A resposta é o clássico “depende”. Para quem está acostumado a comprar carro zero quilômetro financiado, a oportunidade de não pagar juros é quase sempre excelente. Quem faz o financiamento sempre terá que pagar o IOF e as tarifas que mencionamos, além de juros que partem de 15% ao ano (nas financeiras das montadoras, que oferecem subsídio) e que chegam a assustadores 30% ao ano em bancos comerciais comuns. Logo, ter uma proposta de juros zero ajuda e muito.
Conclusão do exemplo: para quem costuma financiar sempre, vale a pena fazer uma poupança para juntar o necessário para a entrada e esperar aparecer uma promoção com juros zero.
Já para quem sempre guarda dinheiro para comprar à vista, a resposta geralmente será negativa. Mesmo que existam aplicações financeiras que pagam muito mais do que o custo efetivo total cobrado no caso que demonstramos, nunca podemos esquecer que comprar um carro à vista em 99% dos casos significa ganhar grandes descontos na negociação.
Como gostamos sempre de demonstrar em números os exemplos apresentados, notem: um veículo que custa na tabela R$50.000,00, geralmente é negociado à vista por valores próximos de R$46.000,00. Lógico que o desconto depende da situação da marca, da economia e da meta de venda de veículos das concessionárias. Comprar perto do fechamento de trimestre ou semestre costuma render grandes descontos.
O suposto desconto de R$4.000,00 significa 8% sobre o valor total do veículo. Caso a opção pelo financiamento sem juros seja feita, além de não receber nenhum desconto, o consumidor geralmente terá que dar uma entrada de pelo menos 60% do valor total (R$30.000,00) e o restante seria parcelado em no máximo 36 vezes¹.
O IOF pago à vista seria de R$ 76,00 (0,38% sobre os R$20.000,00 parcelados), além do adicional de 0,24% ao mês (3% ao ano decomposto mensalmente junto do pagamento das parcelas), que ao total somam cerca de R$1.800,00.
Ainda temos que considerar a taxa de contratação/análise de crédito, de R$ 600,00 em média. Teríamos então R$2.476,00 como custo financeiro somado ao desconto que não foi conquistado de R$ 4.000,00, totalizando R$ 6.476,00.
O contraponto é a oportunidade de aplicar os R$20.000,00 em um excelente CDB, por exemplo, que remunere o valor investido à 100% do CDI ao ano². Excluindo o imposto de renda, renderiam cerca de R$4.600,00 no período de 36 meses do exemplo. Consideramos que a pessoa realize resgates todos os meses para o pagamento das parcelas!
Conclusão no exemplo: não valeria a pena comprar financiado mesmo com juros zero. O “prejuízo” seria de R$2.476,00.
Qual lição aprendemos?
Primeiro que sempre precisamos realizar cálculos antes de tomar uma decisão financeira por impulso. Especialmente quando tratamos de valores expressivos, como no exemplo dado.
Ninguém dá crédito de graça, pois há um custo relevante nisso. No máximo, as montadoras fazem um esforço ao isentar os juros para conseguir esvaziar estoques de carros em momentos ruins. É muito melhor para elas não ganhar com juros do que ter carros novos abandonados em seus estoques.
Para quem não possui dinheiro suficiente para comprar um carro à vista, sempre, e repetimos SEMPRE, considere não optar por um financiamento. Os carros no Brasil já possuem valores extremamente altos quando comparados à média salarial recebida. Comprar financiado consegue praticamente DOBRAR esse valor que já era muito alto.
Considere primeiramente investir seu dinheiro e aguardar o tempo necessário para juntar dinheiro e fazer a compra, ou em segundo lugar considere fazer um consórcio, aumentando suas chances de utilizar o bem já a partir do mês seguinte à aquisição do produto.
Se você pretende buscar uma estabilidade financeira, sem sofrer com situações inesperadas como a perda do emprego, gastos com saúde ou ainda se deseja ter uma aposentadoria confortável, fuja dos financiamentos sempre que puder e fique ligado em nossas dicas de investimentos!
¹Importante salientar que o exemplo que demonstramos é uma situação hipotética, baseada em negociações ocorridas em 2015 e 2016. As condições reais, bem como valor de desconto e prazos máximos, dependem sempre da política de crédito e vendas de cada concessionária e montada.
²A taxa CDI considerada é de 14,13%a.a., referente a abril de 2016. Ao ser descapitalizada considerados uma taxa bruta de 1,10%a.m.