A tecnologia evolui a cada segundo e com ela são apresentadas ideias e soluções que estão mudando a vida de praticamente todas as pessoas com quem tem contato com ela, mesmo que indiretamente.
E não é diferente com os costumes, serviços e até mesmo com o funcionamento da economia de muitos países.
A ideia de compartilhamento de bens e serviços nunca esteve tão forte quanto na década atual, basta olhar para as propostas de aplicativos como o Uber e Airbnb, por exemplo.
Traremos hoje um pouco sobre cada um desses aplicativos e como o compartilhamento (até mesmo de dinheiro) poderá ser o futuro da economia mundial.
Compartilhamento não é coisa do comunismo
Talvez soe estranho pensar que tecnologia, um dos “benefícios” da globalização e capitalismo, possa estar trazendo com força total ideais de compartilhamento de bens e serviços na sociedade.
Mas com certeza isso não passa apenas de uma quebra de alguns paradigmas, não tendo nada a ver com distribuição de renda ou facilitação de acesso à bens e serviços. Não conceitualmente, pelo menos.
Na prática, serviços como o Airbnb e Uber baixaram os valores praticados por serviços que existem há centenas de anos: o de aluguel de imóveis e o de transporte de passageiros.
Ou seja, ambos ajudam indiretamente às pessoas usarem mais um transporte confortável ou a passarem suas férias em outras cidades, com um conforto digno e preços melhores do que os de hotéis.
Ao demonstrar que é mais vantajoso alugar ou compartilhar bens e serviços, em detrimento da compra e venda, temos um modelo que é totalmente oposto ao vigente durante todo o século XX, que era baseado na acumulação de bens e riquezas.
Mas não é isso que está por trás das duas startups mencionadas, e sim a revolução na prestação de serviços que estamos passando. Até hoje, os dois setores mencionados, hoteleiro e de transporte, eram dominados por empresas, redes hoteleiras e centrais de táxi que dispunham de alvarás e outorgas municipais que lhes garantiam praticamente o monopólio do transporte em quatro rodas do público nas cidades.
Ao ligar pessoas comuns que queiram um quarto ou um carro para chegar até ele diretamente a outras pessoas físicas que possuem um imóvel ocioso ou um carro e tempo livre para dirigir, uma nova realidade econômica surge: o compartilhamento de bens, serviços e do tempo livre.
Realidade também para pessoas jurídicas
E para quem acha que as novas soluções chegam para eliminar as empresas prestadoras de serviços, tornando a sociedade um ecossistema que funciona com base no compartilhamento de habilidades específicas, alertamos que no mundo dos negócios essa também é uma tendência.
O serviço Spacious, por exemplo, serve basicamente para compartilhar um espaço ocioso dentro de um ambiente de trabalho de uma empresa para outros empreendedores.
Ou seja, uma empresa possui um galpão com espaço em excesso para atividades que está praticando naquele momento. Ao disponibilizar parte de seu espaço para outro empresário mediante pagamento de aluguel, reduz suas despesas e ajuda o outro empreendedor a ter um local de trabalho com custo reduzido.
Outro exemplo que já possui versão no Brasil é o Caronetas. Com ele diferentes empresas podem compartilhar veículos (e seus custos de manutenção) para realizar o transporte de seus funcionários. O serviço cobra até 20 mil reais por um projeto robusto, mas promete retorno graças a economia realizada com os tradicionais ônibus que cumpriam tal papel.
A economia do compartilhamento
Tudo isso que falamos não é uma descoberta, criação ou constatação de nossa propriedade. Na verdade, esse novo modelo já possui um nome definido, sendo chamado atualmente de economia do compartilhamento, ou sharing economy, em inglês.
A expressão é usada para descrever as atividades humanas voltadas à produção de valores de uso comum e que são baseadas em novas formas de organização do trabalho, no compartilhamento do uso ou posse de bens, espaços ou instrumentos, geralmente organizados via internet.
Esse modelo surgiu graças a entusiastas de tecnologia, alimentando em uma geração de pessoas novos hábito e preferências de consumo.
Hoje pessoas que preferem alugar, emprestar ou compartilhar coisas em detrimento da compra e venda tradicional. Ao contrário do senso comum de antigamente, alugar um imóvel pode ser mais vantajoso, mesmo que custe o mesmo que as parcelas de um financiamento, por exemplo.
Modernidade ou resgate do escambo?
Muitos críticos apontam o novo modelo de comércio colaborativo como herança histórica do escambo, onde o valor dos bens era definido com base na necessidade de cada um e de sua disponibilidade.
O Uber oferece um paralelo muito próximo a isso, com seu preço dinâmico que aumenta o valor das corridas se a demanda na região ultrapassa a quantidade de motoristas, assim os atraindo.
Mesmo ganhando força com o avanço da tecnologia, não é preciso refletir muito para identificar que certos segmentos da economia já utilizavam o conceito há muitos anos. É o caso do ramo de aluguel de trajes finos para festas e do aluguel de veículos.
Uma geração que já nasceu compartilhando
A internet é considerada o principal motor desse modelo de compartilhamento, pois serve como a ponte necessária para facilitar as interações entre os usuários. Os smartphones também aceleraram esse processo significativamente.
Mas mais interessante ainda, é analisar que antes das startups explodirem com base no modelo de negócio, o compartilhamento já existia na internet, mesmo que de forma ilegal.
Basta lembrar do fim dos anos noventa quando o aplicativo Napster surgiu, possibilitando que pessoas que possuíssem músicas, vídeos e outros arquivos, os compartilhassem via internet com outros usuários. Nascia o chamado sistema p2p, ou peer-to-peer. Após o fim do Napster, que caiu graças a enorme pressão da indústria fonográfica na época, o compartilhamento de tudo que pode ser digitalizado nunca mais parou de se desenvolver.
Não é de se estranhar que a geração atual aceite tão facilmente esses novos rumos da economia.
Economizar e melhorar a eficiência comercial
A necessidade de preservação dos recursos naturais em nosso planeta dá força ao modelo de compartilhamento.
O aluguel e compartilhamento de bens aumenta o número de beneficiários e a eficiência do uso desses objetos, contribuindo para uma menor produção e maior aproveitamento.
Pesquisadores usam como exemplo uma furadeira, ferramenta presente em muitos lares. Segundo apurado, uma pessoa comum utiliza apenas 15 minutos da vida útil total desse bem, que é fabricado para superar centenas de horas de uso.
Compartilhar essa capacidade ociosa, seja gratuitamente ou mediante o pagamento de uma pequena contribuição, faz todo o sentido do ponto de vista da economia de recursos naturais.
É pensando nisso que Elon Musk visa diminuir drasticamente o preço dos carros movidos a energia solar da Tesla que serão lançados no futuro. Por serem autônomos, poderão “trabalhar” como táxis enquanto seu dono não o utiliza, gerando renda e melhorando o trânsito.
Críticas à economia do compartilhamento
Um dos aspectos mais relevantes e talvez polêmicos do sistema de economia compartilhada é que ela costuma ser baseada na análise e divulgação da reputação, tanto de quem consome quanto de quem oferece um bem ou serviço. É assim que o Airbnb se torna seguro, mesmo ficando em imóveis de estranhos.
Sempre que uma relação de consumo acontece nesse sistema, ambas as partes são estimuladas (ou até mesmo obrigadas) a realizar uma avaliação da outra parte.
Caso um problema ocorra na relação de consumo, pelo menos uma das partes acaba sendo “negativada”, uma forma de marcá-la no mercado como alguém que não se recomenda para tal interação.
Como as políticas de avaliação são estabelecidas pelas próprias empresas que administram os aplicativos ou sites, muitos ficam a mercê de tais regulamentos, sem uma base jurídica ou legal na maioria dos países.
A falta de leis atualizadas para regulamentar a prática de tais relações comerciais afeta também o comércio já estabelecido e a arrecadação de impostos.
Por não haver consenso rápido sobre a regularidade dessas atividades, ao mesmo tempo que há uma pressão social muito grande pela população que já prefere utilizar tais serviços graças ao custo benefício superior, o governo fica inerte sem receber receitas e sem conseguir coibir tais práticas.
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Serviços de compartilhamento em alta
Não é só de Ubers e Airbnbs que esse sistema se sustenta e evolui a cada dia. Atualmente são vários segmentos que já possuem representante no modelo de compartilhamento, ganhando constantemente novos concorrentes entre si.
MaxMilhas
Surgiu como uma forma de facilitar o compartilhamento de milhas entre clientes que acabariam as deixando expirar devido ao não uso dentro do período de validade. Através de uma plataforma simples, permite-se que interessados em passagens façam buscas normais por destinos. O aplicativo se encarrega de intermediar a compra e venda das milhas de forma bastante simples e direta. Apesar de beneficiar tanto quem vende as milhas quanto quem compra, esse tipo de comércio não é aceito pelos principais programas de fidelidade do mercado.
Taxa: Cobra 15% do valor da venda das milhas. As passagens também cobram uma tarifa de administração variável, mas o valor final costuma ser mais barato do que o praticado pelas companhias aéreas.
PetRoomie
Surgiu do crescimento do mercado de animais de estimação nos últimos anos. Ele possibilita encontrar uma casa ou um cuidador de pets para quem precisa viajar ou que acaba se ausentando de casa por problemas de saúde, por exemplo.
Taxa: O aplicativo fica com 15% do valor total das diárias cobradas pelo cuidador. Estimasse que o dono do animal de estimação possa economizar entre 35% a 75% do valor que seria pago para um hotel ou clínica para tal.
Home Exchange
É parecido com o Airbnb, mas com a diferença de que ele se baseia na troca de imóveis. Ou seja, de forma parecida com um intercâmbio estudantil, interessados oferecem a própria casa em troca de outra em um destino que desejam passar as férias. A economia depende do destino que o hóspede irá escolher.
Taxa: Como ele é baseado apenas na troca, cobra uma anuidade de aproximadamente 300 reais de cada usuário.
Tripda
O Tripda está para o Uber como o Home Exchange está para o Airbnb. Ele é focado realmente no compartilhamento de caronas. Para garantir que o serviço não se torne uma fonte de renda para motoristas, é o aplicativo que estabelece o valor “justo” que será cobrado do passageiro. O foco do aplicativo está em viagens longas, geralmente ligando cidades vizinhas.
Taxa: Não cobra nada. Estima-se que para o passageiro a economia chegue a 50% do valor de uma passagem de ônibus e até 40% em relação à uma passagem aérea.
Eat With
Tido como uma versão gastronômica do Airbnb, junta cozinheiro amadores à usuários em busca de pratos.
Taxa: Cobra 15% do valor da reserva.
Quintal de Trocas
O foco do serviço é a troca de brinquedos para crianças. Ao enjoar de um brinquedo específico, a criança compartilha fotos dele no serviço, podendo escolher dentre centenas de outros brinquedos para se trocar. Caso a outra criança aceite, a troca pode ser feita tanto via correio quanto em um local determinado (quando disponível).
Taxa: O serviço não está cobrando taxas no momento. São os usuários os responsáveis pelo custo dos Correios.
Outros serviços da economia de compartilhamento
Lá fora já são diversos serviços que concorrem entre si no modelo de compartilhamento. Apenas no setor de transportes já temos, para citar alguns, o Zipcar, Car2Go e Enterprise CarShare. Eles permitem que seus usuários peguem um de seus carros próprios em determinados pontos sem a necessidade de ir até uma empresa locadora de veículos.
No Brasil já existem empresas atuando em um modelo similar (car sharing), como a Zazcar e o Fleety.
Outros ramos menores que já fazem uso do modelo é o de compartilhamento de ferramentas elétricas através do serviço 1000 Tools.
O TaskRabbit possibilita que profissionais autônomos (chamados aqui no Brasil também de “maridos de aluguel”) sejam contratados para pequenas tarefas no lar, sem qualquer vínculo trabalhista.
Estes são apenas alguns exemplos. A tendência é que serviços com modelo de negócio similar surjam para quase todos os serviços e itens possíveis. Se você quer ser um empreendedor inovador, é uma boa oportunidade. Mas lembre-se, não basta apenas ter a ideia, o que conta é a execução.