Empreendedorismo Oportunidades

Cigarros eletrônicos, a oportunidade da década?

vaporando cigarro eletrônico

O Dia Mundial sem Tabaco, comemorado dia 31 de maio, trouxe à tona diversos debates interessantes e importantes. Um deles foi sobre os benefícios, malefícios e a regulamentação dos chamados cigarros eletrônicos, termo que muitos adeptos não gostam.

Ao contrário do cigarro tradicional, não temos estudos de longo termo sobre os efeitos do cigarro eletrônico (chamados ainda de ecig, vaporizador, etc). Podemos traçar as origens do primeiro ao século IX, com o monopólio de sua fabricação e distribuição começando na França em 1945, enquanto o segundo supostamente surgiu em 2003 na China.

A cada ano, o uso do cigarro eletrônico se populariza tanto no mundo todo que a indústria tabagista tradicional já está investindo neste mercado. Enquanto alguns acreditam que o produto é a melhor forma para abandonar de vez o cigarro, outros acreditam que funciona como uma porta de entrada para o vício.

Independente do caso, a verdade é que o mercado dos cigarros eletrônicos está crescendo cada vez mais, apresentando grandes oportunidades de negócio.

A evolução dos cigarros eletrônicos

Uma das possíveis origens dos cigarros eletrônicos está na China. Hon Lik, um farmacêutico fumante morador de Pequim de 52 anos, teria inventado o aparelho após seu pai, também fumante, ter sido vítima fatal de câncer de pulmão. A empresa para qual trabalhava, Golden Dragon Holdings, então desenvolveu o aparelho. Outros dizem que a criação é de Herbert Gilbert, um inventor americano que entrou com pedido de patente em 1963 para algo que tinha ideia similar.

Os primeiros modelos, ainda em circulação hoje, são feitos para lembrar visualmente um cigarro como qualquer outro. Eles possuem o design de um cigarro e uma luz LED na ponta para simular brasa, por isso são chamados de “cigalikes” (tipo cigarros).

cigalikes

Os primeiros modelos de cigarros eletrônicos, hoje conhecidos como cigalikes, eram e são feitos para simular visualmente um cigarro tradicional.

Seu funcionamento é simples. Um líquido geralmente composto por glicerina vegetal, propilenoglicol, aromatizantes (todos usados em diversos produtos, inclusive alimentícios) e opcionalmente nicotina, é aquecido ao ponto de vaporização e inalado pelo usuário. Os cigalikes em sua maioria são produtos descartáveis.

Rapidamente novos modelos foram sendo desenvolvidos e hoje não lembram em nada um cigarro tradicional, a não ser pelo fato de produzirem o efeito de fumaça pelo vapor. Entusiastas podem construir seus próprios kits, escolhendo qual a capacidade do tanque que armazena o líquido, a bateria, a potência de vaporização, etc.

Também existem modelos mais avançados que os cigalikes, mas voltados ao usuário iniciante. Eles não requerem conhecimento técnico e podem ser usados assim que tirados da caixa.

Cigarros eletrônicos

Existe uma infinidade de modelos de cigarros eletrônicos e possibilidades de customização.

Com a crescente popularidade destes aparelhos, vimos líquidos dos mais diversos sabores surgindo, desde aqueles que lembram o gosto do tabaco até excêntricos como pizza e bacon. Usuários entusiastas gostam de criar suas próprias variações, com ou sem nicotina, misturando os sabores.

Regulamentação dos e-Cigs

Cerca de três anos depois de sua criação na China, os cigarros eletrônicos começaram a chegar aos Estados Unidos e Europa. Curiosamente, nos anos seguintes diversos governos, agências reguladoras e organizações internacionais começaram a banir os aparelhos. A Austrália por exemplo, na época baniu a venda e posse por considerar que “qualquer forma de nicotina, exceto por terapias de substituição e cigarros comuns, são classificadas como veneno”.

Na maioria dos países onde o cigarro eletrônico não é banido, ele também não é regulado, com algumas exceções. Uma delas é a Inglaterra, pioneira na legalização e aceitação dos aparelhos como uma das alternativas para tratamento do vício.

Desde sua popularização, diversos estudos vêm sendo realizados. Na maior parte, concluem que as substâncias tóxicas presentes estão abaixo do limite de perigo. Um dos primeiros, realizado na Nova Zelândia, classificou o produto em 100 a 1.000 vezes menos perigoso que cigarros tradicionais.

Outro importante estudo, publicado no periódico “Addiction”, fornece fortes evidências de que os cigarros eletrônicos estão sendo usados com sucesso por vários fumantes como uma maneira de cortar, ou diminuir significantemente, o uso de cigarros tradicionais.

Enquanto estudos como esse foram realizados, quase todos sugerindo a efetividade do produto, muitos países continuaram e até intensificaram suas rejeições, alguns incluindo a pena de prisão apenas pela posse.

Hoje a situação é um pouco diferente. Na Europa e sua maior parte dos países, dadas as especificidades regulatórias de cada um, os cigarros eletrônicos são legalizados. Em alguns é proibida a publicidade sobre eles (assim como de cigarros tradicionais), em outros é ou não legal para menores de 18 e temos ainda aqueles em que a regulação sobre o assunto ainda não é clara.

Cigarros eletrônicos no Brasil

No Brasil, assim como na Argentina, Hong Kong, Panamá e Emirados Árabes, a venda, importação e divulgação de qualquer tipo de cigarro eletrônico é proibida. O argumento da Anvisa é de que os estudos ainda não são satisfatórios para a aprovação comercial. Em Hong Kong, a posse pode levar a 2 anos de prisão e multa.

Apesar disso, estamos vendo um crescente aumento na quantidade de adeptos no Brasil. Já existem dezenas de lojas online, e até nas ruas, que comercializam o produto. A Polícia Federal apreende milhares de unidades por ano, na maior parte das vezes na fronteira Brasil/Paraguai, em Foz do Iguaçu. Contudo, há também quem prefira comprar pela internet em lojas de outros países, principalmente pelo preço inferior ao praticado pelos vendedores brasileiros.

Em fóruns e redes sociais, todos os dias surgem relatos de novos adeptos que conseguiram abandonar o cigarro graças ao aparelho, quase sempre também levantando como resultado o corte de gastos, ausência do mau cheiro, sabor melhor, etc.

O que há de comum entre os adeptos brasileiros e de países onde a situação é similar é a percepção de contradição ao proibir os cigarros eletrônicos mas não os cigarros tradicionais.

No Brasil, a proibição da venda é interpretada por especialistas de saúde como preventiva. Ou seja, mesmo que traga menos riscos à saúde quando comparado ao cigarro, não quer dizer que não possuam outras substâncias tóxicas. Isso posto é somado ao pensamento de que os cigarros eletrônicos podem servir como porta de entrada para o uso dos cigarros comuns e outras drogas pelos jovens.

Para André Luiz Oliveira, o representante da Gerência de Produtos Derivados do Tabaco da Anvisa, as coisas não são bem assim:

“A ideia não era bloquear o produto, mas, a partir da comprovação da sua eficácia, permitir a entrada do dispositivo no mercado brasileiro. Porém, nenhum fabricante ou importador registrou o cigarro eletrônico como um derivado do tabaco. Se isso ocorresse, provavelmente os DEFs teriam a entrada permitida no país. Porém, teriam que se enquadrar nas leis antifumo do Brasil e, nesse caso, não poderiam ser utilizados em ambientes fechados, haveria restrição da propaganda, mas isso não interessa a indústria. Eles tentam alegar que há uma série de benefícios à saúde”

Oportunidades de negócios

cigarro dinheiro

Muitos brasileiros já trabalham apenas com a comercialização de cigarros eletrônicos e produtos relacionados, como os “juices”, líquidos que são transformados em vapor.

O preço dos aparelhos varia bastante, podendo chegar a cada dos milhares. Também é possível encontrar modelos baratos, como os de R$ 50, mas que são considerados péssimos pelos usuários mais experientes. Já os líquidos podem variar de R$ 20 a centenas de reais por cada 30ml. Alguns são artesanais, outros importados, e vêm em diversidade enorme de sabores e diferentes níveis de nicotina.

No momento, é impossível embarcar nesse negócio legalmente, mas isso pode mudar a qualquer momento. Conforme aumenta a lista de adeptos e de países que permitem o uso dos cigarros eletrônicos, maior a pressão para liberações em países como o Brasil. A opinião de muitos é que a proibição não deva se manter por muito tempo.

Quando, e se a legalização ocorrer, estaremos diante de uma enorme oportunidade de negócios. Dos mais de 20 milhões de brasileiros fumantes, quem quer largar o cigarro deve conseguir apenas com a vontade própria ou com o auxílio de adesivos, por exemplo, que muitas vezes saem bem mais caro que o próprio cigarro.

Por outro lado, apesar de seu custo inicial mais elevado, o cigarro eletrônico tende a valer a pena quando percebe-se que o seu custo mensal é inferior ao do cigarro para usuários comuns. Algumas contas rápidas:

Supondo que uma fabricante de líquidos consiga atingir 1% dos fumantes brasileiros, temos cerca de 200 mil clientes. Agora supondo que se consiga em média vender por mês 30ml por cliente, com uma margem de lucro de R$ 5, temos R$ 1 milhão mensais.

Essa margem de lucro que mencionamos é subestimada, já que o custo é baixo considerando que a matéria prima para a produção desses líquidos é barata e a sua produção muito simples. Na realidade, muitos usuários fazem seus próprios líquidos sem grandes problemas, mas eles são os “early-adopters”, os entusiastas. É seguro assumir que a população geral preferiria comprar os líquidos, até porque mesmo assim sairiam mais em conta que os custos com o cigarro comum.

Mas os líquidos são apenas uma das fontes de renda. Temos também a venda dos próprios aparelhos, das resistências e outros produtos relacionados.

Além disso, temos a categoria entusiasta, que apesar de menor, gasta um belo dinheiro com produtos para a manufatura de suas próprias resistências, em material para produção de líquidos e equipamentos para customização de seus vaporizadores. Essa comunidade, alias, é muito interessante.

Por diversos motivos, principalmente pela ilegalidade da venda, ingressar no mundo do cigarro eletrônico não é hoje tão fácil. Apesar de termos os aparelhos voltados para iniciantes, é necessário aprender pelo menos o básico de seu funcionamento e uma grande quantidade de palavras e siglas específicas desse nicho. Contudo, e provavelmente por isso, a comunidade se tornou incrivelmente cooperativa. Existem guias na internet feitos por usuários mais experientes, fóruns e grupos em redes sociais (muitas vezes grupos privados para proteger os seus membros) onde pode-se tirar dúvidas e ser prontamente atendido e inclusive eventos para reunir os chamados vapers.

E ter uma comunidade tão envolvida ao redor de um produto é um ótimo sinal para o futuro mercado que está se formando.

Também não consideramos em nossos números os usuários em potencial que nunca fumaram mas começaram a vaporar. Nos Estados Unidos por exemplo, o consumo de cigarros entre estudantes do ensino médio caiu de 4,3% em 2011 para 2,3% em 2015, enquanto o de cigarros eletrônicos subiu de 0,6% para 5,3%. Ou seja, mais jovens estão chegando aos 18 anos já usuários dos vaporizadores.

Com tudo isso considerado, a percepção do cigarro eletrônico como inofensivo ou muito menos prejudicial a saúde em comparação ao cigarro, torna possível que o número de usuários no futuro ultrapasse e muito o que é hoje o de fumantes. Para termos noção de quanto estamos jogando baixo em nossos números, apenas nos Estados Unidos, espera-se que as vendas de cigarros eletrônicos ultrapassem US$ 4,1 bilhões em 2016.

Se isso é um cenário positivo ou negativo não é nosso foco aqui, e também não podemos saber quais seriam os impostos aplicados sobre esses produtos, mas certamente é algo para você investidor observar de perto.