O Presidente Jair Bolsonaro enviou ao congresso uma Medida Provisória que autoriza a volta dos sorteios via 0900, famosos na década de 90. Se você não viveu essa época fique tranquilo. Contaremos um pouco da polêmica história desse sistema de prêmios.
A medida permite que canais de TV aberta voltem a realizar sorteios de prêmios, distribuição de brindes, vendas de produtos e assinaturas interagindo com os consumidores por telefone.
A volta dos sorteios por telefone
A década de 1990 foi marcada por alguns momento importantes. Um deles foi a consolidação dos telefones fixos nas residências.
O produto que era exclusivo das elites até a década de 80, se tornou rapidamente mais acessível graças a privatização das teles e a consolidação da infraestrutura de cabos, que já haviam se espalhado por grande parte do território nacional.
Se antes uma linha telefônica custava o equivalente a um carro usado, em meados de 1995 era possível comprar uma linha por algo próximo a um salário mínimo.
Não demorou para que os publicitários da TV, principal meio de comunicação na época, enxergassem oportunidades de lucros junto ao público.
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Assista um programa, ligue para um número, concorra ou dispute prêmios
O modelo era simples: um programa de TV exibia uma atração que anunciava um sorteio, fosse de dinheiro vivo ou prêmios como carros ou casas. Quem queria concorrer tinha que ligar para um número de telefone que começava pelo famoso 0900.
Para ligar, o custo era de uma ligação para telefone celular em São Paulo ou Rio de Janeiro, geralmente a localização das centrais que tratavam as ligações.
O negócio funcionava de forma parecida com uma rifa: se um carro zero quilômetro custava na época R$15.000,00, o canal se aproveitava de sua audiência para receber milhares de ligações em poucos minutos.
Bastavam algumas centenas de milhares de ligação para que o prêmio estivesse pago e um grande lucro gerado.
Quanto o 0900 custava
Como cada ligação para outra cidade era caríssima na época (e se fosse para celular o triplo disso), os canais exploravam um acordo com as operadoras de telefonia para ficar com parte do que o telespectador gastava nas ligações.
Apenas para o leitor ter uma ideia, o salário mínimo em 1998 era algo em torno de R$198,00. Uma ligação para um sorteio 0900 durava cerca de 5 minutos até o interessado informar seus dados. O custo por minuto girava em torno de R$3,00.
Ou seja, para concorrer cada um gastava cerca de R$15,00. Se parece pouco hoje, na época isso era 7,5% de um salário mínimo, o que equivaleria hoje a R$75,00. Não podemos deixar de mencionar que os programas incentivavam que todos ligassem muitas vezes para aumentar suas chances no sorteio…
Apenas 1000 ligações pagavam um carro zero quilometro que era usado em cada sorteio.
O verdadeiro problema por trás do 0900
A prática acabou sendo considerada um grave problema social ao fim da década. O motivo? Basicamente era a facilidade para que crianças, adultos compulsivos ou idosos irresponsáveis ligassem e ficassem o dia todo na linha, tentando ganhar os prêmios.
E também não podemos esquecer que alguns modelos de sorteio exigiam que o interessado respondessem diversas perguntas para poder participar, fazendo com que a ligação durasse diversos minutos.
As crianças passaram a ser atraídas não apenas por sorteios, mas também por programas nas tardes intercalados com desenhos animados.
Haviam também jogos por telefone que incentivavam as crianças a pegarem o telefone e gastarem fortunas. O destaque da época foi o jogo do Hugo. Se você viveu essa época e se lembra, não deixe de comentar!
Governo promete que o 0900 será diferente
Ao autorizar a volta do 0900, o Governo comentou que a medida busca reviver os sorteios em si, mas não os gastos astronômicos com as ligações telefônicas.
Segundo foi informado pela comunicação oficial do Governo, a aprovação da MP estaria buscando regulamentar a participação gratuita dos telespectadores via aplicativo de celular, sem necessariamente cobrar nada por isso.
Seria o único objetivo dar segurança para emissoras de TV aberta que são abertamente apoiadoras do Governo atual, como o SBT, Rede TV e Band, emissoras com largo histórico do uso dos sorteios em sua história.
As TVs estariam liberadas para oferecer assinaturas, serviços e produtos em seus programas, que seriam adquiridos pelo telespectador via aplicativo de celular, pagando com um cartão de crédito ou outro meio de pagamento.
Aqui entrariam também sorteios, desde que respeitassem o disposto pela Lei 5.768/1971, que dispõe sobre sorteios em qualquer meio autorizado atualmente.
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Concluindo
Nosso país teve uma experiência bastante traumática na década de 90 com tal prática. Lógico que muitas empresas ganharam muito dinheiro explorando o modelo, mas algumas famílias criaram dívidas em virtude do uso descontrolado de alguns membros da linha telefônica.
O fato de que cartões de crédito possuem limites, poderá gerar alguns limitadores no potencial de endividamento dos adultos mais compulsivos.
Há também uma maior restrição no modelo para que crianças tenham acesso a smartphones com cartões de crédito vinculados, o que convenhamos era bem mais difícil de se controlar quando batava discar um número do telefone e seguis as instruções.
De todo modo, apenas a prática mostrará quais efeitos a medida poderá gerar. Voltaremos a comentar sobre assim que as emissoras se adequarem ao modelo e passarem a oferecer prêmios e serviços via “0900”.