O cenário trazido pela pandemia deixou mais em foque aquilo que todos já sabemos – é essencial ter uma reserva de emergência. Muitas empresas, autônomos e funcionários perderam suas fontes de renda e, por não possuir uma reserva de caixa, precisaram recorrer à empréstimos para manter suas contas em dia.
Independente da renda, culturalmente os brasileiros não têm por hábito poupar, e aqueles que poupam o fazem num percentual pequeno em relação a renda, de no máximo 10%. Essa resistência em abrir mão de consumir hoje para aumentar seu patrimônio no futuro pode ser explicada pela expectativa de aposentadoria pelo INSS após o período de contribuição mínimo, realidade que fica cada vez mais distante pelo impacto relevante às contas públicas da previdência, que tende a diminuir os benefícios e postergar o prazo mínimo para aderir ao plano.
Apesar de amplamente divulgada, essa realidade não está mudando, o que ficou claro nos últimos meses. Para que possamos começar a mudar essa a mentalidade imediata e começar a criar uma reserva de emergência, precisamos de um ponto de partida:
Como organizar seu dia
Grande parte do nosso dia pode ser mensurado. As horas de trabalho, idas ao supermercado, tempo de preparo das refeições entre outros. Porém poucas pessoas têm a mensuração de qual é seu custo diário e seu ganho diário. Ter esse valor em mente irá ajudar a tomar decisões conscientes na hora de comprar. Para calcular seu custo diário, você deve elencar todos os custos fixos que possui, incluindo moradia, transporte, alimentação e todas as despesas que são pagas mensalmente. Separe um tempo para refletir sobre as despesas que tem hoje com assinaturas, seguros, planos de fidelidade, cursos e coloque tudo num papel. Feita a soma de todos os itens, divida por 30 para chegar ao seu custo diário. Para o ganho diário some todas as rendas líquidas que possui no mês e divida por 30.
Analise seus gastos
Utilizamos o método acima visando simplificar sua análise de gastos e compras, pelo seguinte motivo: temos por hábito nos dedicar muito no começo de uma nova atividade e com o tempo, abandoná-la. Isso ocorre porque não vamos manter a mesma animação durante todo o processo, e por ver que o esforço para manter aquela nova rotina é muito oneroso, abandonamos.
Tente gastar no início desse novo hábito menos tempo do que está disposto. Apesar de soar contraproducente, irá te ajudar a manter a motivação para não desanimar. Após 30 dias, verá que o tempo utilizado irá aumentar naturalmente, assim como a satisfação por manter o novo hábito.
Compras parceladas e financiamentos
Uma forma simples de incluir compras já realizadas com pagamentos futuros é listar cada item parcelado e incluir o valor da parcela em todos os meses, como no exemplo:
O que podemos analisar agora
Qual é o valor que sobra ou falta no final do mês? Após deduzir todos os seus custos fixos, o valor restante deve ser dividido entre o que será poupado e o que pode ser gasto no mês. Caso essa conta feche no negativo, iremos abordar no próximo post algumas dicas para sair do vermelho.
Antes até de estabelecer uma meta para poupar, aproveite o primeiro mês desse novo hábito para se conhecer, e posteriormente, definir qual quantia faz sentido para você economizar.
Portanto, aqui está o próximo passo: anote todos os seus gastos. Essa é o hábito que provavelmente será mais difícil de implementar – porém é o mais essencial de todos.
A partir do momento em que consegue visualizar todos os seus gastos no mês, seu padrão de comportamento financeiro ficará visível. Essa informação irá te auxiliar a definir todos os hábitos que pode mudar e qual o valor que será economizado.
Dica: você pode anotar seus gastos e incluir em uma planilha uma vez por semana, por exemplo. Tenha em mente que com essa escolha precisará tirar um tempo maior para transcrever as informações. Uma outra possibilidade é incluir diariamente, facilitando a manutenção do novo hábito e ocupando menos tempo no seu dia a dia. Aconselho que principalmente nos primeiros meses, inclua diariamente as informações.
Separe suas contas em blocos
Para facilitar sua análise, ter alguns blocos principais irão demonstrar onde está concentrada a maior parte das suas despesas. Por exemplo:
- alimentação
- transporte – aqui pode ser uber, gasolina, seguro do veículo, IPVA
- farmácia
- estudos
- saídas
- viagens
A escolha dos itens dependerá do seu padrão de consumo. Após um mês descrevendo seus gastos, pode verificar quais se repetem e separá-los em grupos.
Hora do teto de gastos
Tendo já calculado seu custo e ganho diário e conhecendo seu perfil de consumo, chegou o momento mais importante para a sua reserva de emergência: definir seu teto de gastos.
Essa definição é muito particular, e o que funciona para mim talvez não funcione para você, porém é muito importante refletir sobre o assunto. Algumas dicas para encontrar seu teto de gastos:
Meus hábitos de consumo estão saudáveis?
Depois de um mês de análise você deve se fazer essa pergunta. Estou gastando em produtos e serviços que realmente me agregam valor? Comprei mais do que eu precisava? O que me levou a comprar?
É fundamental que essa análise ocorra. Iremos abordar algumas dicar na hora de comprar no próximo post.
Qual é o meu objetivo?
Assim como a forma que você gasta é muito individual seus objetivos também serão, portanto medir o quanto quer economizar e por quanto tempo cabe a você. Alguns posts que podem te ajudar:
- Quanto preciso juntar para parar de trabalhar
- Entenda quando investir pensando no curto ou longo prazo
- O que é previdência privada e se vale a pena
Como guardar dinheiro com disciplina
O sucesso desse novo hábito depende fundamentalmente da sua disciplina e auto conhecimento. Será uma mudança valiosa saber exatamente onde está sendo gasto seu dinheiro, de que forma e como pode mudar aquilo que não faz sentido para você. O primeiro mês é um desafio importante, porém muito recompensador. Tenha em mente que se fosse fácil focar no longo prazo, todos faríamos. Mantenha-se dedicado e acompanhe suas contas se possível diariamente.