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O fim da era de ouro dos smartphones e o futuro promissor

smartphones jogados fora

Marcas de luxo, de “produtos premium”, tiveram ótimas décadas de crescimento. Um exemplo recente é a Apple que, após o lançamento do primeiro iPhone em 2007, não teve um trimestre sequer com quedas, tornando-se a empresa com o maior valor de mercado no mundo por uma grande margem.

Contudo, a empresa apresentou significativa queda em vendas no trimestre que terminou em abril deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. Previsões, inclusive do presidente da Foxconn (que fabrica 70% de todos os iPhones vendidos mundialmente), são de que a Apple terá seu primeiro ano de quedas em vendas em 2016.

Essa queda sinaliza o fim de uma era extremamente lucrativa e dá espaço para novas revoluções como vimos com os smartphones.

A falta de espaço para inovações

A Apple conseguiu se manter à frente de seus concorrentes durante muito tempo por ter sido pioneira. Nos primeiros anos após 2007, não havia contestação de que os iPhones eram superiores em quase todos os aspectos em comparação aos outros smartphones.

Contudo, hoje temos a sensação de que atingimos uma espécie de limite de inovação na área, ao menos superficialmente falando. Ou seja, não há mais tanto espaço para melhorias, muito menos inovações de impacto, nos smartphones. É claro que em poder de processamento ou capacidade das baterias estaremos sempre evoluindo, mas quem precisa de um supercomputador para jogar Candy Crush, enviar mensagens no WhatsApp e fazer algumas poucas ligações?

As grandes inovações neste mercado hoje parecem sempre envolver quem consegue entregar mais por menos, o que não é algo negativo. O mercado de aparelhos de entrada ou intermediários está cada vez mais quente, especialmente em países como o Brasil onde o poder de aquisição é limitado e a crise assusta compradores e investidores.

Prova disso são os intensos debates que sempre acontecem quando uma empresa anuncia alguma funcionalidade questionável. Quando a Apple anunciou o primeiro processador 64 bits, muitos afirmaram que isso era apenas uma jogada de marketing.

O mesmo ainda acontece quando falamos de telas de smartphones com resoluções 2K ou até 4K. O argumento é que o olho humano não consegue notar a diferença entre a resolução Full HD e essas em telas tão pequenas. Isso, porém, não impede as empresas de continuarem anunciando essas resoluções como grandes atrativos de seus smartphones.

Temos ainda aqueles que lançam modelos com números impressionantes como os 6GB de RAM do recém lançado OnePlus 3. Mas aqui também testes mostraram não haver ganhos reais em relação a modelos com 4GB, por exemplo.

Isso não é dizer que não há ainda o que melhorar, mas claramente é uma batalha muito mais difícil do que alguns anos atrás quando qualquer avanço já representava uma grande diferença.

Tanto isso é verdade que temos diversas marcas pequenas, geralmente chinesas, que conseguem produzir aparelhos de qualidade similar a dos principais smartphones por preços muito menores, sendo inclusive fabricados nas mesmas fábricas e com os mesmos materiais, como disse recentemente o CEO do Alibaba.

A mudança na mentalidade do consumidor

Millennials são consumidores pensantes

Outro grande fator que devemos analisar é que a mentalidade do consumidor médio é muito diferente hoje do que era há alguns anos. A grande preocupação agora é gastar de forma inteligente, buscando a melhor relação custo-benefício. Sim, ainda existe o fetichismo pelas marcas, mas além de ser menor, também luta com outras grandes tendências como a preocupação com o meio ambiente, diversas questões sociopolíticas, etc.

É por isso que vemos tantas empresas tentando transformar a percepção dos consumidores sobre suas marcas. O caso da Apple é um dos mais interessantes. A empresa constantemente se posiciona publicamente a favor do público tanto em questões técnicas quanto políticas, quase sempre se envolvendo em polêmicas.

O caso mais recente gerou cobertura mundial. A Apple negou o pedido do FBI para desbloquear o iPhone de um terrorista argumentando que seria necessário criar uma solução que comprometeria a privacidade e segurança de todos os usuários de seu sistema operacional.

Outra manchete mundial foi quando Tim Cook, o CEO da Apple, anunciou publicamente ser gay. A atitude foi vista com ótimos olhos e contribuiu muito com a imagem da Apple como uma empresa socialmente consciente, especialmente entre minorias. Porém, seria ingenuidade pensar que esse tipo de anuncio é feito sem antes serem realizados diversos estudos de mercado analisando o possível impacto nas vendas.

Isso tudo nos mostra que as empresas estão cientes desses novos fenômenos e tentam se adaptar. A Apple está em uma posição um pouco mais complicada, já que sempre tentaram relacionar sua marca com produtos Premium. Em tempos de busca de custo-benefício e consumidores extremamente conscientes como os Millennials, isso não é algo tão vantajoso quanto há poucos anos atrás. Mas isso também a Apple tenta mudar, lançando modelos de iPhone mais em conta, como o recente iPhone SE.

O futuro

Tecnologia do futuro

Ainda veremos inovações no mercado de smartphone, mas sua época de glória provavelmente já passou. Assim como ainda temos “computadores tradicionais”, também teremos smartphones por um longo tempo, e sempre evoluindo. Contudo, o impacto dessas novidades será menor do que vimos no passado recente.

Há pontos chaves onde ainda temos grande espaço para melhorias, sendo talvez a bateria o principal. O leitor mais futurólogo pode levantar possibilidades como o controle de smartphones pela mente, mas isso isso nos leva a perguntar: até que ponto smartphones continuam sendo smartphones e não outra categoria de produto?

Estamos cada vez mais próximos do futuro que vimos em filmes de ficção científica. Hoje quase ninguém duvida de que em algum momento teremos computadores implantados em nossos cérebros, mas não precisamos ir tão longe para fazer alguns chutes do que será a nova queridinha do mercado.

Quase todas as grandes empresas já realizam enormes investimentos em áreas como Internet das Coisas, Realidade Virtual, Wearables, Robótica, Inteligência Artificial e tantas outras. Mas ao contrário do que aconteceu em 2007, dificilmente veremos uma empresa liderando de forma tão disparada uma categoria como fez a Apple com os smartphones.

Se pequenas empresas conseguem produzir smartphones de alta qualidade com baixo custo, temos um efeito parecido com tecnologias emergentes. O acesso a tecnologia, a democratização do conhecimento, o fenômeno do código aberto e diversos outros fatores contribuem para que “amadores” façam contribuições tão grandes quanto empresas consolidadas.

O papel dos smartphones nesse novo cenário parece ser o de central de tecnologias. Ou seja, o aparelho que funciona como intermediário entre todo o resto, por onde o usuário controla tudo.

A empresa liderada por Tim Cook provavelmente não sofrerá o mesmo que a Nokia e Blackberry que viram seus negócios sendo reduzidos a quase nada em tão pouco tempo. Mas de qualquer forma, a queda em vendas da Apple provavelmente não será momentânea e independente da área que entre, a competição será sempre mais forte do que qualquer outra em seu passado. Alguns questionam se sem Steve Jobs a Apple continua tendo o mesmo potencial de inovação que abalou o mercado de computadores pessoais, o de música com o iPod e o de telefonia e muito mais com o iPhone.

Quem fica feliz com essas mudanças são os empreendedores, já que os recursos necessários para embarcar na área de tecnologia estão muito mais acessíveis. O usuário final também tem motivos para comemorar, já que a competição provavelmente significará avanços rápidos e provavelmente preços acessíveis.