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Opinião: Desculpe, sua ideia não vale nada

Lâmpada quebrada

Cara, eu tive a ideia do WhatsApp dez anos atrás! Poderia estar bilionário!

Todos nós já ouvimos, e provavelmente já falamos, algo do tipo. A crença de que basta ter uma ideia genial para ficar rico é uma falácia perigosa.

E a maioria das pessoas que estão entrando no mundo do empreendedorismo digital (ou mesmo tradicional), acredita que a ideia é o aspecto mais valioso do negócio, mas a verdade está longe disso.

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Com um pouco de pesquisa, você verá que todos os empreendedores e investidores de sucesso afirmam categoricamente: a execução é 99%, a ideia fica com um pouco do restante.

Ok, você pode ter tido a ideia de criar algo como o WhatsApp, mas você é um ótimo programador? Um dos fundadores do aplicativo passou meses apenas solucionando um problema técnico de como aceitar todos os formatos de números de telefone do mundo.

Caso você tenha tido essa ideia, provavelmente pensou em algo onde a pessoa fazia um registro tradicional. Mas a grande sacada do WhatsApp foi justamente usar o número de telefone, e isso não é uma tarefa simples como parece.

Além disso, os fundadores do WhatsApp tinham juntos mais de 20 anos de experiência trabalhando com tecnologia, na Yahoo!.

Se bastasse apenas ter a ideia, por que o WhatsApp precisava de 50 funcionários 2 anos após ser lançado? Porque existem milhares de fatores envolvidos que você jamais pensaria.

Isso não quer dizer que você não seria capaz de chegar lá, mas mostra como a ideia é apenas um detalhe.

Mas não é com a ideia que tudo começa?

Zuckerberg no início do Facebook
Zuckerberg e colegas quando o Facebook estava nascendo

Sim, a ideia é seu ponto de partida. Mas você pode ter certeza que até ela mudará com o passar do tempo.

O WhatsApp começou como um aplicativo que apenas mostrava o status de seus amigos que também tinham ele instalado, como “Estou na faculdade”. Ele não havia sido concebido para ser um mensageiro.

Acredite, nenhum site, aplicativo ou serviço de sucesso atual é exatamente o que era na primeira ideia. E isso algo bom!

Independente do que você esteja criando, se quer que faça sucesso, ele precisa solucionar um problema. Conforme você vai adquirindo os primeiros usuários ou clientes, você vai entendendo melhor seus problemas e então melhorando seu produto para atender melhor essa demanda.

Em alguns casos, o projeto se tornará algo completamente diferente da ideia original, como no caso do WhatsApp. Em outros, as mudanças podem não ser tão grandes, mas com certeza impactantes.

A verdade é que o primeiro WhatsApp não resolvia nenhum problema, era apenas algo “legal” e isso não é suficiente. Foi só depois que perceberam a real demanda dos usuários, passaram muitos meses gastando bastante dinheiro dos próprios bolsos e muito suor que o projeto decolou.

E tudo isso envolveu diversas outras pessoas, não apenas os fundadores. Isso é verdade em 99% dos casos. Ou você acha que o Mark Zuckerberg tornou o Facebook o que é hoje sozinho? Lembra o que falamos sobre os milhares de fatores envolvidos que não pensaríamos antes?

Ou seja, sua ideia pode até ser legal, inovadora e atraente, mas será que vai dar em algum lugar? Talvez, mas você só pode ter certeza disso depois de validá-la.

Como saber se sua ideia é boa

analisando

Apesar de não ser, isso devia ser óbvio para todos que querem começar um negócio digital: testando.

Já cansei de ver pessoas querendo encontrar investidores apenas por terem tido uma ideia. Me diga, se você tivesse R$ 100 mil para investir, investiria em algo que não sabe se vai dar certo, que é apenas algumas palavras em um pedaço de papel?

Se sim, faça um favor a si mesmo e coloque esse dinheiro na poupança.

Agora, se a pessoa já tivesse colocado a ideia em prática, mostrado que as pessoas se interessam por aquilo e de preferência já tivesse feito algum dinheiro, aí sim valeria a pena considerar o investimento.

Já consigo ouvir as desculpas: mas eu não sei programar; preciso de dinheiro para divulgação; os custos iniciais são muito altos; blablabla… Amigo, dê um jeito!

Não sabe programar? Aprende ou encontre um parceiro que sabe. Precisa de dinheiro para divulgação? Venda o carro, faça um empréstimo, peça aos pais. Ou você não acredita na sua ideia?

A questão dos custos iniciais são um pouco mais complicadas, mas na maioria das vezes esses custos estão mais na sua cabeça do que qualquer outra coisa, pelo menos em empreendimentos digitais.

Qual seu modelo de negócios?

pagando

É engraçado como tantas pessoas acham que têm uma ideia genial que a tornará bilionária mas sequer pensaram na forma de monetização. E por favor não diga: com propagandas!

O modelo de propagandas já está bastante saturado, requer um número massivo de pessoas para gerar dinheiro de verdade e simplesmente não funciona na maioria das ideias.

Cada ideia é diferente. Caso ela seja sobre uma nova maneira de dar cursos online, talvez o modelo de assinatura talvez seja melhor; Ou ainda se for sobre um novo software, talvez a venda comum faça sentido; Se for de sugestões de compra de produtos, o modelo de comissão seja interessante…

São várias as formas de monetização, e na verdade você pode até criar uma antes nunca vista.

O Shazam nasceu de uma ideia legal que resolve um problema real: descobrir o nome da música que está sendo tocada. Não é horrível quando você gosta de uma música e precisa memorizar uma parte da letra para depois buscar no Google?

Quando o aplicativo identifica uma música, oferece opções de compra ao usuário. Caso ele compre, o Shazam recebe uma comissão. Ok, esse modelo de monetização é o mais óbvio e foi aplicado.

Mas o que a maioria das pessoas não sabem é que o Shazam também faz dinheiro de uma forma muito mais criativa: dizendo às gravadoras quais artistas desconhecidos estão começando a crescer a partir do uso do app por seus usuários. E acredite, isso vale muito dinheiro.

Minha ideia já gerou algum dinheiro, está validada?

Não necessariamente. Agora você deve se perguntar: seu negócio é escalável? Ou seja, seu modelo de negócios permite o crescimento do lucro sem que os custos cresçam na mesma proporção?

A resposta para essa pergunta depende de cada caso, mas se você já está com seu negócio em ação, provavelmente tem uma ideia geral dos custos para crescimento.

Existem diversas outras perguntas para serem respondidas como: quem são seus competidores? Qual o valor total do seu mercado? Seus usuários são ativos ou chegam e vão embora?

É importante ter tudo isso em mente antes de mergulhar em algo que pode significar anos de sua vida. Felizmente, existem vários lugares onde você pode aprender tudo isso para não entrar às cegas em um projeto novo. Um deles é aqui no Em Alta.

Mas também é importante ler livros sobre empreendedorismo, fazer cursos, ir à palestras, participar em eventos, enfim, nunca cansar de aprender.

Então devo jogar todas minhas ideias fora?

desespero

Novamente, não. Se você é daqueles que tem mil ideias por dia, fique feliz. Não é todo mundo que possui essa criatividade. Isso provavelmente significa que você tem uma visão mais analítica dos seus arredores, que consegue identificar problemas sem solução.

Mas é importante saber controlar esse “poder”. Ter tantas ideias pode tirar seu foco e no final, você acaba só com uma lista de projetos inacados. Isso soa familiar?

Minha dica é: anote todas as suas ideias e analise ponto a ponto cada uma delas. Escolha a que achar mais viável e vá fundo. Como vimos, ela provavelmente vai se transformar muito durante sua jornada, mas isso é algo bom.

Se você já é alguém que tem muitas ideias, provavelmente conseguirá achar várias saídas para eventuais problemas e encontrará maneiras de melhorar a ideia original.

Os que são crentes no valor absoluto da ideia, como eu era, poderiam argumentar:

Ah, mas o Zuckerberg só está rico hoje por causa da ideia que teve

Não, ele está onde está graças ao seu trabalho duro, visão e colaboração de todos envolvidos. Se ideias valessem dinheiro, eu já estaria bilionário e aposto que você também. Elas valem apenas como incentivo, como ponto de partida e nada mais.

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