Junto ao anúncio do lançamento da nova nota de R$ 200,00 veio o temor público do que acontecerá com a inflação agora.
Muitos já abordaram o motivo dado pelo Banco Central: atender a demanda por dinheiro em espécie gerada durante pandemia.
A ideia não é nova – o lançamento já estava previsto para acontecer. Apesar de a justificativa ser logística e o efeito puramente contábil o assunto gerou comoção do público.
O fantasma da inflação não abandona o brasileiro
A preocupação não é infundada, para muitos que viveram momentos difíceis a não muito tempo – o Plano Real iniciou há 26 anos apenas – a inflação tem um peso emocional, e principalmente financeiro muito grande.
Para se ter ideia do impacto, nossa inflação acumulada em 12 meses em junho desse ano foi 2,13%. Os doze meses que antecederam o Plano Real apresentavam um índice de aproximadamente 5.000%.
Colocando os números num cenário prático: há um ano você comprava uma refeição por R$ 10,00 e em junho desse ano por R$ 10,213 (estamos usando apenas o indicador como base, outros fatores devem ser utilizados numa análise completa da variação de preço). Já na implantação do Plano Real a mesma refeição que custava Cr$ 10,00 no ano anterior, chegava a Cr$ 5.000,00. Inimaginável, não é? Mas foi a realidade que os brasileiros enfrentavam no período.
Portanto, tal preocupação faz todo sentido principalmente para os que viveram durante esse período, que decorreu de décadas lutando contra uma inflação elevada. Apesar desse histórico aterrorizante, a visão de muitos economistas a respeito mudou. Hoje vivemos uma nova perspectiva econômica, que abre espaço para analisarmos de forma mais ampla a questão que tanto nos preocupa: e afinal, vai aumentar a inflação?
O que é a inflação?
A inflação é o cálculo do preço atual de um conjunto de bens e serviços. Representa o custo de vida por período e região. Sua pesquisa abrange famílias que residem em áreas urbanas e que ganham de 1 a 40 salários mínimos, independente da fonte desses rendimentos.
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O que não é a inflação
- Não significa que você perdeu dinheiro em 12 meses;
- Não é um cálculo sobre a melhora do bem estar social;
- Não demonstra se a economia gerou mais valor no período analisado;
- Não calcula a melhora ou piora do desempenho econômico;
Tendo tudo isso em mente, vamos analisar o que de fato ela demonstra: quanto os preços aumentaram em relação ao ano ou mês anterior.
É um índice utilizado por exemplo para operações de crédito como correção monetária, para que a sua parcela tenha o mesmo valor real durante a vigência do contrato.
Por que a nota de R$200 gera preocupação?
A grande preocupação com a emissão de notas e distribuição no mercado é que a demanda por produtos aumente, gerando aumento generalizado nos preços e incapacidade da oferta de atender a essa demanda.
Num momento atípico como o que estamos vivendo, a demanda por muitos tipos de bens tende a desaparecer. O valor gerado pela economia, diminui bruscamente. Sem pessoas na rua, não há comércio, não há fábricas, não há demanda por transportes, lazer, e todo esse efeito está sendo sentido pelo setor empresarial, que não consegue manter suas obrigações em dia e precisa necessariamente diminuir sua folha de pagamento e em alguns casos, encerrar suas atividades.
O desemprego em massa gera ainda menos demanda, até mesmo para os serviços essenciais como supermercados.
Dentro desse cenário, podemos entender a suposta tranquilidade em afrouxar as contas públicas aumentando a dívida e criando programas como Auxílio Emergencial, empréstimos subsidiados e postergação dos pagamentos de impostos. Sem essas medidas, não há desenvolvimento econômico, e como consequência, a deflação.
E por que a inflação negativa pode fazer mal?
Por ser o cenário que idealizamos depois de um longo período de relações com a inflação, nem sequer analisamos de forma clara os efeitos negativos da sua inexistência.
Um exemplo prático é o que acontece quando não há investimento público para não aumentar a dívida, e uma taxa SELIC – a taxa o qual majoritariamente as linhas de crédito estão lastreadas – está alta. Nesse cenário, o setor privado não irá investir visto o custo alto de financiar seus projetos. A dívida aumenta, afinal está indexada nessa mesma taxa.
Apesar de o cenário brasileiro ser atípico e correr o risco de voltarmos ao patamar anterior ao real, podemos notar que de forma prática as medidas conservadoras de até então não funcionaram quando analisamos o pequeno desenvolvimento, em alguns anos não houve incremento algum no PIB.
Somando a esses fatores o cenário atual, a quase estagnação econômica que vivemos se transforma rapidamente no retrocesso econômico, e perda de valor. Sabemos que além disso, aumenta a desigualdade social e os problemas que são intrínsecos no nosso país.
Cabe a essa análise ilustrar o pensamento do economista André Lara Resende, que recentemente publicou seu livro Consenso e contrassenso: Por uma economia não dogmática, o qual foi amplamente criticado por ter uma abordagem aberta ao gasto público e na sua ligação intrínseca ao desenvolvimento econômico.
Resende inclusive participou da elaboração do Plano Real como um dos integrantes da equipe econômica. Sua ideia é a fixação da taxa de juros abaixo da taxa de crescimento da economia. A contribuição econômica que tal medida viria a trazer diminui a necessidade de aumento de impostos, contribui com o desenvolvimento econômico e auxiliaria a diminuir a dívida pública.
A inflação pede desculpas
Todavia a cautela não deve ser deixada de lado. Quando consideramos que os efeitos das medidas implementadas anteriormente tiveram um impacto ímpar no Brasil, é necessário irmos com passos lentos. Porém não estagnados a ponto de não caminhar.
Dessa forma, a abordagem do governo atual parece fazer sentido, gerando fôlego tanto para os cidadãos que hoje não tem mais sua fonte de recursos, como às empresas que estão queimando seus caixas para superar a pandemia. A taxa de juros baixa irá proporcionar uma possibilidade para empresas se financiarem e tentarmos sair desse momento da melhor forma possível.
É importante frisar que toda análise retroativa será moldada aos olhos do leitor não no tempo em que acontece, mas depois do fato ocorrer. Portanto, ainda poderemos encontrar soluções que trariam maiores resultados, numa análise futura pós pandemia.
Com a realidade atual e os possíveis desencadeamentos, o enfoque a controlar a inflação não parece ser o mais importante.
Fontes utilizadas na análise: